Quase R$ 10 milhões em jogo: a reforma do prefeito, os interesses nos bastidores e os silêncios que gritam

O Café com Pimenta teve acesso ao documento completo

com 143 páginas, e realizou uma leitura minuciosa, expondo o que a retórica oficial tenta ocultar: um impacto estimado em quase R$ 10 milhões aos cofres públicos nos próximos três anos, com a criação de novas secretarias, dezenas de cargos comissionados e reajustes salariais em plena crise fiscal.

Uma reestruturação disfarçada de modernização: o Projeto de Lei nº 036/2025 expõe: a possível face oculta do projeto.

Na contramão do discurso nacional de ajuste fiscal e contenção de gastos, a Prefeitura de Santo Antônio da Platina segue um caminho tortuoso: o da maquiagem institucional. Sob o rótulo sedutor de “modernização da estrutura administrativa”, o Projeto de Lei nº 036/2025, enviado pelo prefeito Gil Martins à Câmara Municipal, revela-se, na verdade, como uma manobra política disfarçada de gestão técnica.
Aprovado em primeira votação por ampla maioria, o projeto caminha célere para o segundo turno, sem o devido debate público, atropelando qualquer senso de responsabilidade fiscal. Enquanto o país fala em cortar gastos, apertar os cintos e conter o avanço da máquina pública, o Executivo platinense avança no sentido oposto: cria cargos comissionados, reorganiza secretarias à luz de possíveis interesses políticos e promete eficiência onde, na realidade, se cultiva inchaço.
Os termos do projeto são ambíguos. Fala-se em “otimização”, “dinamismo” e “inovação administrativa”. Mas, na prática, o que se vê é a proliferação de cargos e o fortalecimento de estruturas que servem menos ao interesse coletivo e mais à perpetuação de um grupo no poder. É o velho clientelismo vestido com roupas novas. E o preço, como sempre, será pago pelo erário — e, indiretamente, pelo contribuinte.
Não se trata aqui de negar a necessidade de rever estruturas defasadas ou de modernizar a máquina pública. O problema é o como, o por que e o para quem. Reestruturar é uma coisa. Ampliar o possível cabide de empregos é outra. Modernizar não pode ser sinônimo de inflar despesas com pessoal enquanto faltam investimentos reais em saúde, educação e infraestrutura.
O mais grave é o silêncio cúmplice da maioria parlamentar, que deveria representar o povo e fiscalizar o Executivo. Ao aprovar sem resistência uma proposta de tamanha envergadura, a Câmara Municipal perde a chance de exercer seu papel histórico de contenção dos excessos e salvaguarda do interesse público.

📋 O que propõe o projeto?

Entre os principais pontos do PL 036/2025, estão:
• Criação de duas novas secretarias: Esportes, Cultura, Lazer e Turismo e Relações Institucionais;
• Criação de 10 novos cargos de diretores comissionados;
• Reajuste do salário do chefe de gabinete, que passaria de R$ 6 mil para R$ 11 mil — um aumento de 83%;
• Organização da estrutura com base na Lei de Responsabilidade Fiscal, mas com efeitos orçamentários altamente questionáveis.

📉 O rombo: quase R$ 10 milhões

A proposta traz, disfarçada em organogramas, descrições de cargos e “otimização da gestão pública”, um impacto financeiro que gira em torno dos R$ 10 milhões até 2028. Isso inclui os salários dos novos comissionados, funções gratificadas e o reajuste de cargos estratégicos.
E de onde sairá esse dinheiro? Do mesmo lugar de sempre: do contribuinte. Da saúde que falta. Da creche que não tem vaga. Do exame que nunca é marcado. Da farmácia pública onde uma lista de medicamentos em falta está afixada na porta como um retrato do abandono.
🩺 Enquanto isso, na vida real…
• Pacientes aguardam há mais de dois anos por exames simples na rede pública;
• Consultas com especialistas demoram até quatro meses;
• A Farmácia Municipal exibe, colada na porta, uma lista de medicamentos em falta;
• O Conselho Tutelar é acionado diariamente por famílias sem acesso a vagas em creches municipais;
• O Pronto-Socorro, alvo de reclamações recorrentes, enfrenta denúncias de negligência e desorganização.
É essa a “eficiência administrativa” que a reforma promete entregar? O que está em jogo não é uma mudança de estrutura — é uma mudança de prioridades.
E diante dessa realidade, o que propõe a gestão? Cargos. Secretarias. Salários maiores.

🗣 O que disseram os vereadores?

Dr. Leônidas da Silva Neto (PRD) liderou a crítica à proposta:
“Essa reforma pode comprometer o orçamento da cidade. Precisamos de mais investimento nos serviços básicos, não em estrutura política.”
Para Leônidas, o projeto não prioriza a população. Prioriza a manutenção de cargos políticos e o apadrinhamento. E mais: pode desequilibrar as contas públicas em um momento de dificuldade nacional.

🧑‍💼 Fabinho Galdino (PSDB): a defesa e o conflito
Entre os defensores entusiastas do projeto, está o vereador Fabinho Galdino, que justificou:
“As mudanças são necessárias diante do crescimento urbano e da sobrecarga da estrutura atual.”
Mas o que o vereador não mencionou no plenário — e que o Café com Pimenta revela agora — é que seu pai, senhor Galdino, é funcionário comissionado do Município, ocupando atualmente o cargo de Secretário de Defesa Social, além de responder pela pasta responsável pelo trânsito municipal. Curiosamente, o projeto de reestruturação administrativa fortalece justamente essa área, com ampliação de departamentos e reorganização interna que poderão resultar em mais cargos e mais orçamento.
A pergunta que não quer calar: há ou não há conflito de interesse aqui?

👥 Outros posicionamentos
Eliane Siqueira (Republicanos) celebrou a criação da Secretaria da Mulher:
“É um avanço importante para as políticas de gênero. Precisamos garantir visibilidade e estrutura para isso.”

Professor Diego Vieira (Republicanos) afirmou que a nova Secretaria de Esportes contribuirá para:
“Prevenção à criminalidade e inclusão social dos jovens.”

Já o vereador Edson Muniz (União), conhecido como “Buchecha”, fez uma ressalva importante:
“Não é o momento para esse tipo de reajuste.”
Mesmo apoiando a proposta, Muniz criticou abertamente o aumento no salário do chefe de gabinete.
Menos Inchaço, Mais Eficiência.

Quase R$ 10 milhões de reais vão fazer falta no orçamento básico do município — dinheiro que poderia ser direcionado para sanar problemas estruturais urgentes, como saúde precária, educação defasada e assistência social debilitada. Em vez disso, o valor será drenado para manter novos cargos e reajustes salariais. É uma escolha que vai na contramão do Brasil, que busca cortar gastos, conter despesas e reduzir o peso da máquina pública. Aqui, o caminho escolhido foi o oposto: inchar a estrutura e onerar ainda mais o erário.

📣 Segunda votação: hora da decisão
A segunda votação do projeto acontecerá nos próximos dias. Se aprovado, os efeitos da reforma serão sentidos por anos, consolidando uma máquina administrativa pesada, cara e pouco conectada com as demandas reais da população.

❗Platinense, o que você acha?
Você concorda com um projeto que aumenta cargos e salários, enquanto faltam exames, medicamentos e vagas em creche?
Se não concorda, vá à Câmara Municipal. Comente. Compartilhe. Faça barulho.
Não permita que decisões que impactam o seu futuro passem no silêncio.

Café com Pimenta – Aqui a notícia vem quente. E sem adoçante.

1 comentário em “Quase R$ 10 milhões em jogo: a reforma do prefeito, os interesses nos bastidores e os silêncios que gritam”

  1. Emerson Gonçalves

    Parabéns , mais uma vez. Por seu comentário bem imparcial e muito
    Bem explicativo , muito dinheiro , poderia ser investido em outras áreas. Saúde , creche compra de imóveis pra diminuir este alugueis que são pagos , isso vai sobrar para todos nós munícipes no futuro

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