
Um jovem, uma dor e muitas perguntas
A morte de João Otávio Carneiro Domingues, de apenas 17 anos, comoveu Santo Antônio da Platina (PR) e expôs um tema que nunca pode ser tratado com indiferença: a eficiência do atendimento de emergência na saúde pública.
Descrito como saudável, atleta e dedicado aos estudos, João morreu na madrugada do último domingo (2) após dias de dor intensa, idas e vindas ao hospital e uma sequência de atendimentos que agora levantam sérias dúvidas sobre possíveis falhas no processo médico e assistencial.
Do colégio ao pronto-socorro
Na quarta-feira (30), ainda durante o horário de aula no Colégio Estadual Cívico-Militar Edith de Souza Prado de Oliveira, o estudante começou a se sentir mal.
Segundo a diretora auxiliar, Cristiane Papi, João se queixou de tontura e forte dor lombar. “Ele se deitou porque não conseguia mais ficar sentado. Liguei para o Samu, mas me informaram que não poderiam enviar uma ambulância naquele momento”, contou.
Sem o socorro imediato, a própria equipe da escola o levou até o pronto-socorro municipal, onde ele foi medicado e liberado. A dor, porém, persistiu.
Nos dias seguintes, segundo relatos da família, o adolescente retornou várias vezes ao Pronto-Socorro, com dor intensa e crescente.
“Cada vez diziam uma coisa diferente. Deram remédios, falaram que podia ser coluna. Depois ele piorou muito”, relatou um familiar.
Na noite de sábado (1º), com o agravamento do quadro, João foi intubado e levado à UTI do Hospital Regional, mas não resistiu a uma parada cardíaca por volta das 4h30 da madrugada de domingo (2).
Segundo informações preliminares da família, a causa foi infecção generalizada (sepse).
A nota oficial da Secretaria de Saúde
Dois dias após a morte, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou nota afirmando que “todos os protocolos assistenciais foram seguidos”.
De acordo com o comunicado, João foi atendido no pronto-atendimento municipal, onde foram realizados exames “de acordo com os protocolos vigentes”.
A Secretaria declarou que, no primeiro atendimento, não havia indícios de emergência médica, e que, após a piora, o SAMU foi acionado regularmente para a transferência ao Hospital Regional.
O texto também informou que o caso será investigado pelo Setor de Epidemiologia e reafirmou o compromisso da pasta com “a transparência e a ética”.
Protocolos seguidos. Mas, foram suficientes?
É aqui que mora a pergunta que não pode ser ignorada.
Se todos os protocolos foram seguidos, por que um adolescente de 17 anos, com sintomas persistentes e dor aguda, chegou ao estágio de infecção generalizada sem diagnóstico preciso e sem intervenção efetiva a tempo?
Será que esses protocolos, em tese, funcionaram? Ou será que não foram suficientes, nem adequados para evitar o desfecho fatal?
É justamente isso que precisa ser revisto: a eficácia real dos procedimentos e a agilidade da rede municipal de saúde.
Porque protocolos existem para salvar vidas — e quando uma vida é perdida, é sinal de que algo precisa ser questionado e corrigido.
É preciso rever, avaliar e agir
Nada trará João de volta. Nenhuma explicação, justificativa ou relatório técnico será capaz de curar a dor da família e da comunidade.
Mas é preciso agir para que novas vidas não se percam da mesma forma.
É preciso que se revejam os protocolos, que se avalie com seriedade se foram seguidos, se são de fato adequados à realidade dos atendimentos de emergência e se estão sendo aplicados com a devida eficiência.
Mais do que seguir normas, é necessário que a Saúde Pública de Santo Antônio da Platina funcione com eficácia real, humana e ágil — para que outras famílias não precisem conhecer a dor irreversível da perda.
A dor que virou alerta
Uma vida perdida é uma vida perdida — e nunca mais poderá voltar.
As explicações, as justificativas e as possíveis causas não trarão João Otávio de volta.
O que se espera agora é ação concreta, transparência na investigação e mudança efetiva no modo como os atendimentos de urgência são conduzidos.
Porque a morte deste jovem não pode ser apenas mais uma estatística.
Ela precisa ser um grito de alerta, um ponto de inflexão.
“Uma vida, depois de perdida, não volta mais. Mas a responsabilidade de mudar — essa, sim, é urgente e inadiável.”
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