
Enquanto a Prefeitura de Santo Antônio da Platina anuncia com pompa o novo contrato milionário para a gestão do vale-alimentação dos servidores municipais, nos bastidores o clima é de desconfiança, apreensão e — para muitos — déjà vu de calote.
A empresa O2 Plus Card Instituição de Pagamentos Ltda., vencedora do Pregão Eletrônico nº 75/2025, assinou com o Executivo Municipal o Contrato nº 163/2025, que prevê o fornecimento e administração dos cartões magnéticos destinados a 1.164 servidores ativos. O valor global: R$ 11.124.960,00, com vigência de 12 meses, podendo ser prorrogado por até dez anos.
Mas enquanto o discurso oficial fala em “modernização”, “tecnologia” e “valorização do servidor”, a realidade parece estar carregada de incertezas — tanto para os servidores quanto para o comércio local.
O eco do medo: calotes passados e desconfiança presente
Nas últimas horas, comerciantes e servidores municipais procuraram o Café com Pimenta para denunciar e pedir esclarecimentos sobre o novo cartão. O motivo? O temor de repetir o pesadelo vivido com o antigo cartão Face Card, cuja empresa até hoje não repassou os valores de compras realizadas em diversos estabelecimentos da cidade.
De um lado, os comerciantes relatam prejuízos e falta de repasse dos valores — dinheiro que saiu do caixa, mas nunca voltou. Do outro, os servidores afirmam ainda ter saldos retidos nos antigos cartões, sem qualquer pronunciamento oficial do Executivo sobre como será feito o ressarcimento.
O silêncio do governo municipal tem sido ensurdecedor. Nenhum comunicado, nota técnica ou explicação clara sobre o rombo deixado pela Face Card.
A polêmica nacional: o cartão que virou “problema”
A apreensão platinense não é isolada.
A O2 Plus Card já foi notícia em Cachoeira do Sul (RS), onde servidores e vereadores classificaram o sistema como “insatisfatório” e “limitado”. Segundo o portal OCorreio, apenas 25 estabelecimentos aceitavam o cartão, deixando mercados, açougues e padarias de fora — inclusive redes como Imec e Desco.
Lá, o cartão chegou a ganhar um apelido nada lisonjeiro: “Cartão Problema”.
Agora, com o mesmo nome estampando o novo contrato platinense, o receio é legítimo.
O medo é que a história se repita: problemas de credenciamento, poucos estabelecimentos conveniados e o pior — o não repasse do dinheiro ao comércio local.
O contrato e a conta
De acordo com o extrato do contrato nº 163/2025, assinado pelo prefeito Gil Martins, a empresa O2 Plus Card será responsável por toda a administração, recarga e gerenciamento do benefício, com créditos mensais de R$ 770,00 por servidor.
O documento fixa o valor unitário de R$ 662,20 por cartão, já com o desconto de 14% da taxa administrativa. O contrato passa a valer a partir de 1º de novembro de 2025 e vai até 1º de novembro de 2026 — podendo ser prorrogado até 2035, caso “permaneça vantajoso”.
O que muitos servidores e comerciantes se perguntam é: vantajoso pra quem?
Silêncio ensurdecedor
Enquanto isso, nem o Departamento de Recursos Humanos (RH), nem a Secretaria de Fazenda e tampouco o gabinete do prefeito se pronunciaram oficialmente sobre o que será feito em relação aos valores bloqueados pela Face Card.
A sensação é de abandono. Servidores com dinheiro preso, comerciantes com prejuízo e uma nova empresa — com histórico duvidoso — assumindo o serviço.
O que se espera
Os servidores exigem transparência e garantias concretas de que não haverá repetição do fiasco anterior. O comércio, por sua vez, quer segurança nos repasses e uma rede credenciada que realmente funcione.
Enquanto o novo cartão ainda nem começou a circular, o Cartão Alimentação de Santo Antônio da Platina já ganhou um apelido — importado de Cachoeira do Sul — e um selo de desconfiança popular:
“Cartão Problema”.
Café com Pimenta seguirá acompanhando o caso de perto.
Servidores e comerciantes podem continuar enviando relatos e comprovantes para nossa redação. Transparência e cobrança são os temperos que mais gostamos de servir.
Este portal de notícia está aberto para nota oficial e pronunciamento do Executivo Municipal.
