
Carla Zambelli fugiu. E não foi uma escapada discreta
Embora tenha cruzado a fronteira com a Argentina de forma quase clandestina, o gesto é escancaradamente político. A deputada federal do PL paulista, condenada pelo Supremo Tribunal Federal a dez anos de prisão por sua participação na invasão aos sistemas do CNJ, anunciou com voz trêmula em uma live que “pediu licença do mandato” por questões médicas. Mas ninguém em Brasília, nem mesmo seus aliados, acreditam na desculpa esfarrapada.
A fuga tem nome, causa e método: chama-se autoexílio estratégico. Assim como Eduardo Bolsonaro — que se mandou para os EUA quando o calo apertou — Zambelli agora busca abrigo na Europa. Os dois são peças do mesmo tabuleiro bolsonarista, numa estratégia cada vez mais visível: escapar dos rigores da lei sob o pretexto de saúde, agenda internacional ou “reflexão espiritual”.
Zambelli é mais do que uma aliada barulhenta de Bolsonaro. Ela é símbolo do radicalismo desvairado que alimentou a máquina do ódio institucional desde 2018. E, como tal, sua derrocada tem gosto agridoce para os que ainda acreditam no império da Constituição. A parlamentar foi condenada junto com o hacker Walter Delgatti Neto — aquele mesmo que já foi chamado de “o Snowden de Araraquara” — por conspirar contra o Judiciário e participar ativamente de um plano criminoso para desmoralizar as instituições democráticas. Com direito a promessas de indulto e tudo mais, segundo as investigações.
Mas não é só o destino de Zambelli que está em jogo. Sua ausência acontece em momento crucial: Bolsonaro depõe ao STF no dia 9 de junho, e o silêncio súbito da parlamentar — antes uma metralhadora verbal nas redes — não passa despercebido. Pelo contrário, soa como reconhecimento tácito de culpa. E mais: enfraquece ainda mais o bunker bolsonarista em Brasília, que já anda esvaziado, com aliados pulando do barco ou se escondendo atrás de manobras regimentais.
A base do PL, por sua vez, se vê num dilema constrangedor. Sabe que Zambelli virou uma bomba-relógio — jurídica, política e moral — mas hesita em soltá-la. O medo? Abrir brecha para o STF avançar sobre outros aliados. A aposta? Empurrar com a barriga e tentar salvar as aparências. Só que o STF, agora sem a distração do carnaval golpista de 2023, parece disposto a fazer o que o Congresso se recusa: aplicar a lei.
Enquanto isso, o exílio europeu da deputada ecoa como símbolo de uma direita que ruge nos palanques, mas treme diante das sentenças. A bravata perde força quando a tornozeleira se aproxima. Zambelli foi rápida no gatilho — como naquele episódio vergonhoso em que sacou uma arma nas ruas de São Paulo — mas agora corre não com valentia, e sim com medo.
O bolsonarismo, que tanto pregou “lei e ordem”, agora coleciona fugitivos e condenados. E à medida que a Justiça avança, a pergunta inevitável se impõe: quem será o próximo a pedir “licença médica”?
O Café com Pimenta estará aqui, como sempre, para servir a dose quente da verdade.