
Por Café com Pimenta
Sérgio Moro, o ex-juiz que se vestiu de herói nacional na cruzada lavajatista e surfou na onda anticorrupção até o Senado, agora encara um novo capítulo — e não é nada glorioso. A Procuradoria-Geral da República está com um pedido quente nas mãos, protocolado pelo Grupo Prerrogativas, que pode colocar Moro na geladeira da política por oito anos. O motivo? Acusações que vão de prevaricação a corrupção passiva, todas amparadas por relatórios técnicos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Se a investigação avançar e houver condenação, Moro pode dar adeus às eleições de 2026, 2030… e ao discurso de paladino da ética.
O material que embasa a denúncia é explosivo. Não se trata de retórica política ou embates ideológicos. Os relatórios do CNJ apontam com precisão cirúrgica para uma engenharia jurídica criada na 13ª Vara Federal de Curitiba, sob o comando de Moro, que movimentou centenas de milhões de reais com justificativas frágeis e base legal duvidosa. O dinheiro, fruto de acordos de colaboração e leniência da Lava Jato, foi redirecionado para uma fundação privada e chegou até mesmo a beneficiar acionistas minoritários da Petrobras — tudo sob o pretexto nobre (e conveniente) de “ressarcimento à sociedade”.
Mas o que era vendido como justiça transformadora agora cheira a desvio disfarçado. O CNJ cravou: houve “recirculação atípica” de valores, articulada entre magistrados, procuradores e até autoridades norte-americanas. A juíza Gabriela Hardt e o ex-procurador Deltan Dallagnol, que já teve seu mandato cassado pelo TSE, também estão na berlinda.
O relatório complementar da correição extraordinária é claro ao sugerir que os atos podem, em tese, configurar crimes como peculato (art. 312 do Código Penal), corrupção passiva (art. 317) e prevaricação (art. 319). O documento, aprovado por maioria no CNJ e enviado à PGR pelo ministro Luís Felipe Salomão, foi considerado “contundente” pelos subscritores da notícia de fato. Até o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, encaminhou ofício reforçando a gravidade da questão.
O Grupo Prerrogativas, que apresentou o pedido formal de investigação, é composto por pesos pesados da advocacia como Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), Marco Aurélio de Carvalho e outros 12 juristas renomados. Eles não pedem pouco: querem uma apuração rigorosa e tecnicamente conduzida sobre a conduta do então juiz que, ao que tudo indica, pode ter cruzado a linha tênue entre a autoridade judicial e o abuso de poder institucionalizado.
Diante da avalanche de indícios e do teor da denúncia, a inelegibilidade de Moro já não é apenas uma possibilidade jurídica, mas um fantasma que assombra sua ambição de disputar o governo do Paraná em 2026. A espada de Dâmocles balança sobre sua cabeça, pronta para cair — e arrastar consigo o que restou do lavajatismo político, já combalido com a queda de Dallagnol.
E o que diz Moro? Responde com desdém: afirmou que o Prerrogativas “só defende bandidos”. Uma frase tão típica quanto reveladora — um aceno ao populismo punitivista que o consagrou, mas que hoje encontra pouco eco fora do seu nicho. Seu sarcasmo talvez funcione em manchetes, mas dificilmente convencerá o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público Federal ou, futuramente, o Tribunal Superior Eleitoral.
Se for condenado por improbidade dolosa com enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, conforme prevê a Lei da Ficha Limpa, Moro poderá ser declarado inelegível por oito anos. E se isso acontecer, não será por vingança política — será pela própria lógica institucional que ele um dia jurou defender.
O ex-juiz da Lava Jato talvez descubra que, no fim das contas, o rigor da lei que tanto aplicou aos outros também vale para si.
No Brasil da Lava Jato à Lavação de Roupa Suja, só resta uma certeza: os heróis de ontem estão cada vez mais parecidos com os vilões de sempre.
Leia aqui a íntegra da petição do Prerrogativas