
A pauta era um café. Mas bastou uma pitada de pimenta para que viesse à tona o que muitos tentam esconder sob o tapete:
o estado calamitoso da saúde pública em Santo Antônio da Platina. Nossa reportagem, ao revelar o absurdo de uma espera de quatro meses por uma simples consulta, abriu as comportas de um sistema encharcado de descaso.
Desde então, fomos inundados por denúncias, todas documentadas, com protocolos, datas e a revolta de quem já perdeu a esperança. E o que encontramos? Uma fila invisível, disfarçada em relatórios frios e discursos políticos, onde pacientes são obrigados a esperar como se a vida pudesse entrar em modo de espera.
Quer ver o retrato do abandono? Um exame Doppler, essencial para o diagnóstico de doenças vasculares, foi solicitado em novembro de 2022. Passaram-se dois anos, e até hoje, nada de agendamento. Isso não é descuido. É negligência institucionalizada.
E não se trata de um caso isolado. É o reflexo de uma gestão que se perdeu entre promessas e planilhas, enquanto a população sofre com o abandono pintado de burocracia. Falta médico. Falta estrutura. Falta coragem para enfrentar a realidade. Mas não falta maquiagem nos relatórios.
O mais revoltante? Recursos existem, mas são aplicados onde dá voto, não onde salva vidas. Enquanto se gasta milhões em eventos e estruturas supérfluas, as filas — essas invisíveis — seguem crescendo, silenciosas, adoecendo e matando. Com o valor investido na EFAP, por exemplo, poderíamos realizar um mutirão de saúde e zerar a fila de exames e consultas, trazendo dignidade e esperança à população.
Mas não foi isso que aconteceu. E não aceitaremos mais maquiagem. Queremos transparência. Queremos gestão com rosto limpo, com coragem de olhar nos olhos da população e agir. Porque a saúde em Santo Antônio da Platina não está doente — está à beira da morte clínica.
E, ao contrário das filas, a paciência da população tem fim.