Uma vida que ensinou mais do que História — combateu o preconceito com coragem e viveu pela Educação

Flávia Letícia:
Uma vida que ensinou mais do que História — combateu o preconceito com coragem e viveu pela Educação
Nesta sexta-feira, o Norte Pioneiro do Paraná amanheceu mais silencioso. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Santo Antônio da Platina, o corpo de Flávia Letícia Elias da Silva, mulher, professora, estudante, voz firme e corajosa da luta LGBTQIAPN+ e símbolo do amor incondicional pela Educação.
Tinha 42 anos, mas sua trajetória foi intensa como poucas. Vítima de complicações por pneumonia, partiu após dias internada na UTI da Santa Casa de Jacarezinho. Sua ausência deixa lacuna em salas de aula, quadras de vôlei, corais de igreja e — sobretudo — nas trincheiras cotidianas contra o preconceito.
Aula de vida
Flávia dava aulas de História e Geografia no Colégio Estadual Rio Branco, em Santo Antônio da Platina, e cursava o 4º ano de História no período noturno da UENP – Jacarezinho. Sim, ela era dessas: que ensina de dia e estuda à noite. Que planta ideias nos outros, sem jamais parar de regar as próprias.
Mais do que lições sobre impérios ou relevos, ensinava o valor da dignidade. Mostrava, com a própria existência, que a Educação é espaço de construção, acolhimento e transformação.
Lutar para existir, existir para transformar
Flávia enfrentou o preconceito de frente — sem se esconder, sem baixar os olhos. Foi referência na comunidade LGBTQIAPN+, não apenas por ser quem era, mas por resistir com generosidade, elegância e coragem.
Assim como Douglas, também nome conhecido por sua luta, Flávia rompeu barreiras com o coração aberto e a cabeça erguida.
Não usava trincheiras, mas cadernos. Não respondia com gritos, mas com firmeza. Seu simples ato de ocupar espaços — de ser professora, universitária, cidadã — era, por si só, um ato político.
Despedida com dignidade, memória com força
O velório foi realizado na Capela Vitoriana e, ainda que a dor fosse imensa, o ambiente estava repleto de carinho e reconhecimento. A diretora do colégio, Sônia Aparecida Dorini Justino, ao lado de professores, funcionários e alunos, prestou solidariedade e ressaltou a importância da professora para a comunidade escolar.
Porque Flávia não era “só” uma professora. Era inspiração. Era resistência. Era afeto. Era o tipo de pessoa que transforma escolas em refúgios — e salas de aula em territórios de liberdade.
Que legado fica?
Fica a certeza de que a Educação precisa de mais Flávias.
De que ainda é necessário combater preconceitos — nas ruas, nas escolas, nas instituições.
Fica o exemplo de alguém que não só ensinou sobre o passado, mas que ajudou a construir um futuro mais justo, plural e possível.
Flávia Letícia Elias da Silva vive na memória de quem aprendeu com ela. E vive em cada pessoa que ousa ensinar com amor e viver com verdade.